Quando contemplamos o envelhecimento, quer seja no âmbito familiar ou em instituições, é necessário refletir sobre a importância de encarar essa etapa como uma experiência compartilhada por todos. Esse princípio orientou o Encontro Técnico realizado pelo projeto Rede 3i em janeiro de 2024, que reuniu profissionais de Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) em Belo Horizonte. A palestra, ministrada pela psicóloga e mestre em ciências do envelhecimento, Leny Lousada, coautora deste texto, abordou a influência dos vínculos afetivos na saúde mental das pessoas idosas institucionalizadas, atraindo uma audiência diversificada composta por psicólogos, assistentes sociais, cuidadores e outros profissionais das ILPIs.
O foco central do Encontro deu-se na análise dos vínculos afetivos e seu papel fundamental ao longo de toda a existência, com destaque para o contexto das pessoas idosas institucionalizadas.
Compreendendo os vínculos afetivos
Os vínculos afetivos representam relações emocionais estabelecidas ao longo da vida, desempenhando um papel primordial em nosso desenvolvimento e bem-estar psicológico. De acordo com Martin Buber, a existência humana encontra sua base na comunicação e no diálogo entre indivíduos, podendo ser categorizada em duas modalidades de relacionamento: o "Eu-Tu" e o "Eu-Isso".
Na dinâmica do "Eu-Tu," experimenta-se uma relação pautada na reciprocidade, respeito e integração, em que o outro é percebido como um ser único e completo. Em contrapartida, no contexto do "Eu-Isso", a relação se caracteriza pelo distanciamento, objetificação e fragmentação, resultando na redução do outro a uma mera parte ou função. A afetividade, de acordo com essa abordagem, emerge a partir do "Eu-Tu", permitindo a formação de conexões profundas que transcendem a superficialidade.
A construção dos vínculos afetivos
Os vínculos afetivos, desde o nascimento, estabelecem-se por meio da interação com a mãe e o ambiente, evoluindo ao longo da vida conforme experiências e necessidades individuais. Notavelmente, durante o envelhecimento, quando as redes sociais tendem a se estreitar, a afetividade assume um papel de destaque. A palestra explorou temas como a expressão e o recebimento de afeto, a construção da identidade em relação ao outro e a capacidade de moldar e remodelar a realidade. Além disso, foram abordados fenômenos relevantes, como a empatia, a ressonância e a resiliência.
Desafios dos vínculos afetivos
Os vínculos afetivos autênticos se baseiam nos pilares de respeito, confiança, empatia e reciprocidade entre as pessoas. Essas conexões se estabelecem em diversos cenários, desde o âmbito familiar até o escolar e o profissional, conferindo benefícios como a melhoria da autoconfiança, da disposição e o estímulo à criatividade e espontaneidade. Entretanto, é necessário levar em consideração que os vínculos podem ser influenciados por preconceitos, caracterizados por julgamentos negativos e generalizados e relacionados a características como raça, gênero, orientação sexual, classe social e religião. Esses preconceitos podem interferir nas relações interpessoais, resultando em discriminação e exclusão, prejudicando a capacidade de as pessoas se reconhecerem como iguais e diferentes ao mesmo tempo, valorizando, assim, a diversidade humana.
Portanto, é de extrema importância que todos se conscientizem sobre os preconceitos que possuem e busquem superá-los por meio da educação, do diálogo, da informação e da convivência com o outro. Em resumo, os vínculos afetivos desempenham um papel crucial na saúde mental e no bem-estar de todos, independentemente de idade ou contexto. Cultivar relacionamentos embasados no respeito e na empatia é essencial para uma sociedade mais inclusiva e saudável, onde a diversidade é valorizada e celebrada. No contexto das pessoas idosas institucionalizadas, essas relações com familiares, amigos, cuidadores e outros residentes podem fomentar a socialização, reduzir a solidão e aprimorar a qualidade de vida no ambiente das ILPIs. Portanto, valorizar e cultivar essas conexões afetivas representa uma medida essencial para garantir um envelhecimento mais saudável e feliz para aquelas pessoas que residem nessas instituições. Por meio do entendimento e do fortalecimento desses vínculos afetivos, podemos contribuir para melhor atendimento à pessoa idosa institucionalizada, e para quebra de paradigmas e preconceitos muito comuns no contexto das ILPI, com vistas a um serviço mais harmonioso e acolhedor para todas as pessoas.
Autoras: Leny Lousada e Júlia Fonseca
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