Cuidar da pessoa idosa: desafios para quem cuida

O cuidado é a essência da vida humana. Somos cuidados desde que nascemos e, possivelmente, seremos cuidados na velhice. Mas o que é cuidar?

Cuidar é atenção, respeito, é estar presente, acolher. O cuidado é um direito, um compromisso com a cidadania da pessoa cuidada e o seu cuidador, com garantia de tratamento digno e respeitoso, de acordo com a singularidade de cada um. Uma atitude de zelo, solicitude, atenção ao outro em seu sofrimento, que pode estar relacionado ao corpo, mas também a questões emocionais e sociais.

Como dimensão da vida, o cuidado se dá na relação com o outro. Mas quem é esse outro que precisa de cuidado? Aqui vamos conversar sobre as pessoas que cuidam de pessoas que envelheceram com algum grau de dependência e que precisam de alguém para cuidar.

O Estatuto da Pessoa Idosa, em seu artigo 3º, diz que cuidar é dever da família, da sociedade e do Estado, mas o que vemos é que a responsabilidade de cuidar, recai sobre um membro da família, geralmente mulher, que cuida sozinha, abrindo mão de sua vida, de seus projetos pessoais, de seus desejos, para cuidar do outro, em uma cultura que lhe interdita de expressar seus sentimentos e emoções, queixar-se ou pedir ajuda. Esse sacrifício ao seu próprio cuidado em função do acúmulo de atividades e da falta de tempo para se cuidar leva ao estresse, à insatisfação e ao comprometimento da sua saúde física e mental. Além de, muitas vezes as pessoas que cuidam são também pessoas idosas.

Na verdade, o que vemos é que cuidar é uma tarefa solitária, invisível, mas realizada com dedicação e da melhor forma possível, dentro do contexto vivido pela pessoa idosa e seu cuidador.

E como cuidar de quem cuida?

Enquanto política pública, deve-se pensar em programas de apoio ao cuidador familiar, bem como à garantia de direitos e espaços de convivência e troca de informações sobre a tarefa do cuidar. É importante ouvir a(o) cuidadora(o) em suas necessidades, dar atenção, proporcionar momentos de descanso, articulando para que haja revezamento no cuidado, além de estimular o autocuidado, um outro grande desafio para quem cuida.

Mas, vamos pensar um pouco no que é possível cuidar de si, para o cuidador familiar. Embora o tempo de cuidado ocupe todo o dia da pessoa que cuida, é importante pensar em momentos para isso. Vejam algumas dicas:

  • Procure dividir as tarefas do cuidado com outros membros da família, fazendo o possível para que a pessoa que cuida tenha, pelo menos, um dia de folga para fazer suas coisas e descansar. Se a conversa for difícil, peça ajuda para alguém;
  • Aproveite os momentos em que a pessoa idosa está mais tranquila ou dormindo e descanse também;
  • Procure cuidar de você fazendo coisas simples, como um banho demorado, uma leitura, um trabalho manual, uma volta na praça, um cochilo, enfim, algo que dê prazer.

O autocuidado agregado às políticas públicas de apoio ao cuidado, garante a saúde do cuidador em todas as suas dimensões: física, mental, emocional, espiritual, por isso, deve ser visto pela família e pelo Estado como algo fundamental para a qualidade de vida da pessoa idosa e da pessoa que cuida.

Reconhecer o lugar do familiar que cuida como sujeito de direitos, é fundamental para a preservação de sua saúde integral, de suas relações e de sua autonomia. Cuidar de quem cuida é uma tarefa de todos: Estado, família e sociedade. Por isso, implantar uma política de cuidados de longa duração tornou-se urgente para a qualidade de vida do cuidador e da pessoa idosa que precisa de cuidados.

Paula Chacon, Assistente Social, gerontóloga, professora de gerontologia e consultora em garantia de direitos e política pública para a pessoa idosa

 

Áudio gravados por: Pâmella Noronha

 

Iniciativa realizada pelo CeMAIS em parceria com a Prefeitura de Contagem e o Conselho Municipal da Pessoa Idosa de Contagem, com destinação de imposto da CEMIG e do Banco Itaú.